No ritmo de “Terruá Pará”

“Autênticos, múltiplos, fortes, coloridos, alegres e tristes também” – KEILA

Começou nesta Quarta-Feira (18) na Casa de Cultura Mário Quintana o Festival Internacional do Documentário Musical 2023 – IN-EDIT Brasil, na estreia o filme “Terruá Pará” de Jorane Castro – vencedor dessa edição do Festival. A sessão se encerrou com o show de tecnobrega com o guitarrista paraense Felipe Cordeiro.

O Documentário que narra de maneira vívida e sensorial a música Amazônica do Pará, costura com sensibilidade os diferentes ritmos e influências que dão nascimento aos diversos estilos característicos dessa cultura colorida e viva, como o Retumbão, as Ladainhas, o Carimbó, o TecnoBrega, a Guitarrada, o Rap, a Opéra e também a Música Clássica.

Ao som e abrigo da mata e nutridos pelas águas, esse povo de fortes características culturais que foi segregado da cultura por assim dizer “tradicional” do colonialismo e capitalismo, descobriu e inventou sua própria manifestação. Um grito por posicionamento e identificação. Inspirados pelo som que chegava em suas rádios dos ritmos latinos das Guianas Equatoriais e Caribenhos, o que resultou foi uma forte, delicada e inspiradora manifestação que unem o Latim com o Caboclo, o Folclore, o Meio Ambiente, a Agricultura familiar, o feminino ancestral, a tradição oral; convergindo em uma bandeira que deve ser levantada e respeitada: O orgulho de ser Paraense.

Na mata ancestral se reúnem nas águas para brincar, os elementos da biodiversidade local ritmados pelo ser humano, entrelaçando os aspectos físicos com o imaginário de uma mente criadora e habitante do meio, o jogo que espelha o interno e externo constrói sua própria forma em um ritmo sonoro e natural.

A partir desse encontro os desdobramentos (afetados por diferentes conexões) levam o espectador pela colorida festa do Boi Bumbá onde ressoam a baixada, matraca, zabumba, costa de mão e orquestra, o molejo do Retumbão ao som do Banjo, a manifestação espiritual da fé nos locais remotos que mesclam o Latim com o Caboclo propagando a tradição oral de São Benedito, o canto das Sereias do Mar bradando e manifestando a vida das agricultoras, o folclore e o meio ambiente em Marapanim, o tecnobrega saudando a periferia, a guitarrada nordestina, o rap narrando o cotidiano nas feiras de açaí, os pescadores com suas falas cantadas narrando o dia dia no mar, e o clássico nas óperas e sinfonias com suas partituras em forma de árvore, representando no som suas raízes, troncos, folhas e galhos.

Unindo a arte de maneira ampla nos saberes, sabores, aromas, cores, elementos naturais, no cotidiano e nos corpos em movimento, o som no Pará se consolida como manifestação cultural próspera e histórica, deixando um gostinho de quero mais e a curiosidade de vivenciar a presença da riqueza do Pará.

IN-EDIT Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical 2023

De 18/10 a 25/10 em Porto Alegre, na Casa de Cultura Mário Quintana

Texto por Jade Luiza @jade.luiza_